A Águia que (quase) virou Galinha

Olá amigos do Centro Social Marista, semanalmente postarei no blog alguns textos e links para compartilhar idéias interessantes com vocês. Minha missão aqui será falar de assuntos ligados ao Programa Vida Feliz e Projeto de Vida. Nesse primeiro post quero lhes contar uma história que talvez para muitos seja conhecida, mas que mesmo assim vale a pena ler.


A idéia dessa história não é minha, meu é só o jeito de contar.....


A Águia que (quase) virou galinha
(Por Rubem Alves)


Sobre um águia que foi criada num galinheiro.

E foi aprendendo sobre o jeito galináceo de ser, pensar, de ciscar a terra, de comer milho, de dormir em poleiros...

E na medida em que aprendia, ia esquecendo as poucas lembranças que lhe restavam do passado. É sempre assim: todo aprendizado exige um esquecimento... e ela desaprendeu.. cume das montanhas, os vôos nas nuvens, o frio das alturas, a vista se perdendo no horizonte, o delicioso sentimento de dignidade e liberdade...

Como não havia ninguém que lhe falasse destas coisas, e todas as galinhas cacarejassem os mesmos catecismos, ela acabou por acreditar que ela não passava de uma galinha com perturbação hormonal, tudo grande demais, aquele bico curvo, sinal certo de acromegalia, e desejava muito que o seu cocô tivesse o mesmo cheiro certo de cocô das galinhas...

Um dia apareceu por lá um homem que vivera nas montanhas e vira o vôo orgulhoso das águias.
“Que é que você faz aqui?” ele perguntou.

“Este é o meu lugar”, ela respondeu. “Todo mundo sabe que as galinhas vivem em galinheiros, comem milho, ciscam o chão, botam ovos e finalmente viram canja: nada se perde, utilidade total...”

“Mas você não é galinha”, ele disse. “É uma águia”.

“De jeito nenhum. Águia voa alto. Eu nem sequer voar sei. Pra dizer a verdade, nem quero. A altura me dá vertigens. É mais seguro ir andando, passo a passo...”

E não houve argumento que mudasse a cabeça da águia esquecida. Até que o homem, não agüentando mais ver aquela coisa triste, uma águia transformada em galinha, agarrou a águia a força, e a levou até o alto de uma montanha.

A pobre águia começou a cacarejar de terror, mas o homem não teve compaixão; jogou-a no vazio do abismo. Foi então que o pavor, misturado a memórias que ainda moravam em seu corpo, fez as asas baterem, a principio em pânico, mas pouco a pouco com tranqüila dignidade, até se abrirem confiantes, reconhecendo aquele espaço imenso que lhe fora roubado. E ela finalmente compreendeu que seu nome não era galinha, mas águia...
Abraços
Luciano Petry
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